05 janeiro 2017

O Pescador








Muitos de nós que nasceram nas aldeias deste Portugal, para terem melhores condições de vida viram-se na necessidade de logo cedo e ainda jovens migrarem, normalmente para as cidades mais próximas e ainda outros já mais adultos para uma imigração longínqua.
Tive por “vontade” ainda muito novo migrar para o Porto mais tarde “engajado” para a tropa e aí, na altura, “migrado” em Angola (hoje seria um imigrante ou “mercenário”, tempos!)
Foi uma Juventude fora do “ninho” onde nasci, longe daqueles com quem aprendi as primeiras artes do jogo do Pião ou do jogo do Carolo, da caça aos Pardais ou os primeiros passos à pesca das Bogas, Mujes ou Barbos.
Chegou enfim o tempo de regresso mais pousado às origens; já profissional, já assente na vida. É então que se dá o reencontro com os antigos colegas, os “inamovíveis”, os que as circunstâncias da vida não lhes permitiu outras oportunidades. Entre eles distingo um grande parceiro e amigo, o Alcino.
Já não estávamos em altura de jogar ao Pião ou Carolo mas a pesca seria uma boa prática para os dias de folga. O Alcino que por cá tinha ficado “apropriou-se” pelo então maravilhoso rio Douro e logo ficou um dos grandes mestres da pesca da zona. E é nesta época que criamos uma parceria de pesca à linha.

O Alcino conhecia o rio tão bem como o Dr. Manuel, o Dr. Carvalho Mendes ou o Snr. Luís Alves do restaurante Miradouro.
Como o Alcino conhecia os sítios certos lá íamos a “penates” ao longo das margens procurar os melhores locais e sempre condicionados, na altura, pelas descargas da barragem do Carrapatêlo, estas alteravam as correntes que condicionavam os chamados “fios de água”, os locais ideais para a pesca do Muje. Esta foi a época mais fabulosa da pesca na nossa terra, foi então que nos decidimos por um “barquito” com um pequeno fora de borda igual ao já existente do Dr. Manuel.




É bom que fique registado que enquanto eu pescava um Muje o Alcino pescava três, devia ser uma atracção inexplicável, mas foram tempos inesquecíveis até que a barragem de Crestuma-Lever começou a “implodir” o rio em 1985.
 
Finava o velho Rio Douro e nascia o novo Rio Douro igualmente belo mas não tanto quanto antes.

Em 1985 é o ano que põe termo à nossa parceria e é também o ano que por razões de assunção doutras responsabilidades profissionais me impediam de uma presença tão frequente como antes. 

É neste vai e vem da vida que os contactos com o Alcino escasseiam e lá de longe a longe ainda nos riamos e recordávamos e discutíamos qual tinha sido o maior peixe.
O Alcino faleceu o ano passado, foi pescado para o Paraíso.

1 comentário:

  1. Paz á sua Alma. Recordo-me do Snr. Alcino que morava numa casinha de r/c enfrente á loja do Acacinho Alves, primo da minha mãe. Recordo-me com saudade da pescaria anual em que se ia em vários barcos e se levava os alimentos para fazer o almoço na margem do rio, vinho a rodos e até café e bagaço se levava! Uns preparavam o petisco, às vezes feijoada(tripas)por vezes fevras etc.! Outros pescavam! Bons tempos!

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